sábado, 6 de agosto de 2016

Produtores: Lapostolle







            Fala-se, frequentemente (na verdade, o verbo acusa-se é mais correto) na “internacionalização” do vinho sul-americano. Por internacionalização entende-se o direcionamento do perfil dos rótulos produzidos a fim de atender o mercado consumidor europeu e norte-americano, seus principais compradores. Trata-se de uma meia-verdade: realmente, o viés financeiro têm sua parcela de responsabilidade. No entanto, o perfil do enófilo sul-americano e suas preferências também buscam referência no Velho Mundo. Não se trata, no entanto, de algo ruim: a Europa é um mosaico de cepas, estilos, terroirs que, aos poucos, vêm tentando ser refletidos e adaptados aos solos e microclimas sul-americanos, muitas vezes com sucesso. Um desses “casos” de sucesso, sem dúvida, é a Lapostolle que, como o próprio slogan diz, é francesa em sua essência, porém chilena de nascimento.
           




O Produtor



Vinhedos da Lapostolle no Vale de Apalta, microrregião localizada no Vale de Colchagua, Chile.



A Lapostolle foi fundada no ano de 1994, pelos franceses Alexandra Marnier Lapostolle e Cyril de Bournet, seu marido, em conjunto com o chileno José Rabat Gorchs. Alexandra é a herdeira natural do patrimônio da família Marnier-Lapostolle, criadores do famoso licor Grand Marnier.





Licor Grand Marnier.



            Além da produção de licores, a família já possuía reputação com seus vinhos no Velho Mundo, porém desejava explorar os terroirs sul-americanos, então em voga entre os apreciadores de vinho. A opção inicial de Alexandra era por Mendoza, na Argentina. No entanto, as travas aduaneiras impostas pelo governo argentino à época a desestimularam, e a futura vinícola Lapostolle viria a instalar-se no Vale de Colchagua, no Chile, região que já demonstrara seu potencial para a produção de conceituados vinhos, os quais viriam no futuro a serem denominados superchilenos.

            O infortúnio propiciado pela Argentina aos planos dos Lapostolle não poderia ter sido mais oportuno: foi adquirida uma área no chamado Vale de Apalta, dentro de Colchagua. Os microclimas ali existentes são considerados ideais para a produção de vinhos tintos de excepcional qualidade, em geral de perfil robusto e de guarda. Some-se ao fato de que a família não poupou recursos para explorar ao máximo as peculiaridades do terroir: o renomado e experiente enólogo francês Michel Rolland foi contratado como consultor da jovem vinícola. Como atestado da grandiosidade do projeto de Alexandra, foi construida uma imponente sede, cuja arquitetura assinada pelo chileno Roberto Benavente simboliza o ciclo da vida de um vinho, e os setores dos seus andares obedecem a este conceito.





Michel Rolland, enólogo francês, consultor da Lapostolle até os dias atuais.




Não tardaria para os primeiros frutos serem colhidos: em 2003, menos de 10 anos após a sua fundação, o seu principal vinho, o Clos Apalta (safra 2000) obteria a terceira colocação no Top 100 da prestigiosa Wine Spectator. Cinco anos depois, em 2008, a safra 2005 do vinho homônimo foi eleito o “Vinho do Ano” pela mesma publicação, atingindo a pontuação mais elevada já dada pela Wine Spectator a um vinho sul-americano (96 pontos).

Atualmente, a Lapostolle possui, além do vinhedo de Apalta (exclusivo para a produção do icônico Clos Apalta e de seu outro superchileno, o Borobo – vinho de produção limitadíssima, criação exclusiva de Michel Rolland) vinhedos no Vale de Casablanca, no vizinho Vale de Cachapoal e em Cauquenes, no Vale do Maule. Sua linha inclui, além dos vinhos já citados, os rótulos Casa, Le Rosé, Canto de Apalta e Cuvée Alexandre, produtos constantemente alvo de premiações em concursos internacionais. O blog esteve recentemente na sede do Vale de Apalta, onde participou de uma degustação a qual incluiu as linhas Casa (Sauvignon Blanc), Cuvée Alexandre (Merlot) e Clos Apalta (blend de uvas tintas) - veja abaixo - e pode atestar o esmero e refinamento dedicados à produção dos seus vinhos.




Detalhe interno da sede da vinícola no Vale de Apalta, cujo ciclo em espiral simboliza o ciclo da vida de um vinho.





Sala de degustação da sede do Vale de Apalta.




Seu Legado



Detalhe da sede da vinícola no Vale de Apalta, com este ao fundo. As colunas de madeira, 24 no total, simbolizam a quantidade de meses que o seu principal vinho (o Clos Apalta, ali produzido) passa em repouso nas barricas de carvalho, antes de ser lançado.




            Certamente o Chile possui alguns dos terroirs do chamado “Novo Mundo” mais próximos do que foi a Europa antes do avanço da filoxera. Naturalmente, seu território tornou-se palco do surgimento de rótulos com potencial para desbancar, em concursos, algumas das “estrelas” européias. Ao levar “ao extremo” a aplicação das técnicas européias em território sul-americano e contribuir de forma decisiva para o estrelato dos vinhos chilenos, esse talvez seja o maior legado deixado pela vinícola, confirmando em definitivo que, sim, a América do Sul pode desempenhar papel de protagonista no mundo do vinho.




Lapostolle.









Vinho Degustado: Lapostolle Casa Grand Selection Sauvignon Blanc 2015





           

Análise Visual:

Límpido e de intensidade baixa, apresentou borda incolor e núcleo amarelo palha;


Análise Olfativa:

            Aromas apresentando média intensidade, primários, contendo abacaxi e maracujá em profusão; leve herbáceo;
           

Análise Gustativa:

            Seco e de acidez equilibrada, sabor intenso de abacaxi, maracujá e muito herbal. Corpo médio para baixo, álcool idem; persistência média.


Considerações Finais:

            Com certa elegância para um Sauvignon Blanc, de boa tipicidade de cepa e região: pronto para beber. Ostras, petiscos a base de carne branca e salada caprese são sugestões de harmonização.


Pontuação: 90 FRP









Vinho Degustado: Lapostolle Cuvée Alexandre Merlot 2013 








Análise Visual:

Límpido e de intensidade média em sua coloração, apresentou borda rubi clara e núcleo rubi;


Análise Olfativa:

            Aromas apresentando média intensidade, secundários, com boa baunilha, tostado e fruta negra madura;
           

Análise Gustativa:

            Seco, possui acidez média para baixa e taninos destacados; sabor de intensidade média para alta, defumado, com fruta compotada e café. Elegante no corpo e no álcool, de ótima persistência.

Considerações Finais:

            Típico quanto à cepa, bordalês, fino: pode ser bebido agora ou guardar por cerca de 3 anos. Cordeiro assado, javali, risoto milanês são sugestões de harmonização.   


Pontuação: 92 FRP








Vinho Degustado: Lapostolle Clos Apalta 2011 (Carmenère, Cabernet Sauvignon e Merlot)







Análise Visual:

Límpido e de intensidade alta, apresenta borda rubi e nucleo rubi escuro;


Análise Olfativa:

            Aromas de média a alta intensidade, de caráter terciário, contemplando couro, resina, especiarias, tostado e alguma fruta negra;
           

Análise Gustativa:

            Seco e de acidez média para baixa, taninos austeros e elegantes, seu sabor é de alta intensidade, remetendo a fruta negra madura ainda com algum frescor e um toque defumado e de especiarias. Encorpado e de álcool de intensidade média para alta, muito persistente na boca.


Considerações Finais:

            Poderoso, elegante, complexo aromaticamente e de excepcional evolução: pode ser bebido ou guardado por um bom tempo. Javali assado, cordeiro e aves de carne mais encorpada são sugestões de harmonização.


Pontuação: 96 FRP







Fontes:

Lapostolle: